O Eleito

domingo, janeiro 22, 2006

O Eleito

Muitos portugueses têm mau perder. Gostam de apostar em vencedores porque gostam de ganhar. A ideia de perder é insuportável, mais ainda num país que é um poço onde se cai, um cu de onde não se sai como dizia João César Monteiro, o inventor do cinema cego.
Quanto mais destacado nas sondagens está um partido ou um candidato presidencial maior é a probabilidade desse partido ou candidato presidencial vir a ganhar eleições.
Muitos portugueses não gostam de ver maus resultados no Domingo à noite, na véspera de mais uma semana de trabalho. Não gostam de arriscar votar em alguém que sabem não ter hipóteses de ganhar. A ideia draconiana de um sorteio eleitoral para a Presidência da República não é tão irrealista como possa parecer à primeira vista. Ou à primeira volta. Só que é um sorteio à portuguesa. Um sorteio com batota, em que se viciam com entusiástica alegria os próprios resultados. A mentalidade do jogo e do sorteio, última esperança para quem quer resolver a sua vida sem esforço, o síndroma Euromilhões é parte integrante da mentalidade autóctone seja na forma de eternos subsídios a fundo perdido seja no preenchimento frenético de boletins de jogo, ou de voto. Tudo menos dispender esforço na procura de soluções para os problemas que importa resolver. Eles, os políticos, são eleitos para isso. Nós, os eleitores incumbimo-los dessa árdua tarefa, dizem. Mesmo que se trate da eleição de uma figura meramente representativa como é o Presidente da República. O único super poder que tem é o de dissolver a A.R. ou demitir o Primeiro Ministro. E mesmo esse super poder, a Bomba Atómica como alguns lhe chamam, longe de ser uma decisão solitária, só tem sido aplicado com sucesso até agora porque tem tido a esmagadora maioria do apoio popular quando é exercido. Apenas uma vez o General Ramalho Eanes se serviu dele sem o apoio incondicional de todas, ou quase todas, as forças políticas em acção na altura e o preço que pagou foi o mais alto: a implosão do Eanismo.
Cavaco sabia isso antes de ganhar as eleições e terá isso em conta agora, mantendo Sócrates à frente das medidas impopulares que ele, enquanto 1º Ministro refém da sua pusilanimidade, jamais conseguiu concretizar.
O retumbante 2º lugar de Manuel Alegre, escandalosamente à frente de todas as sondagens feitas, mostra o receio que muitos têm de, publicamente, criticarem César, ou seja Mário Soares, com medo de virem a sofrer represálias incalculáveis, acabando na arena, pasto das feras.
Soares está definitivamente acabado, apunhalado pelas costas no silêncio das cabines de voto.
Lamentável o destaque dado pelas estações televisivas, em conjunto, às justificações dadas por um Primeiro Ministro pela derrota do candidato do seu partido enquanto o segundo candidato discursava. O timing disso não foi inocente. A República é assim, pequenina e vingativa.
Quanto aos resultados irrisórios dos candidatos do PCP do BE e do MRPP, esses resultados falam por si: Os eleitores mobilizaram-se sim. Mas não por eles.
A grande percentagem de abstencionistas neste acto eleitoral também tem um significado. E, quanto a isso, a República tem razões de sobra para continuar o que começou a fazer ontem: reflectir.

1 Comments:

Blogger Mário Almeida said...

Porque o Sócrates foi pequenino e vingativa, a sua conclusão é que a República é pequenina e vingativa ?

Os exemplos que eu não arranjaria para classificar a monarquia...

12:54 da manhã  

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