O Eleito

segunda-feira, novembro 28, 2005

Os Zelotas

De quando em vez, a nomenklatura republicana fundamentaliza-se, exagera e espeta-se.
Em assomos assíncronos de patrioteira actividade doutrinária, os guardiões da pureza do estado laico e republicano decidem de vez em quando e extemporaneamente ressuscitar cadáveres ideológicos, práticas de intolerância e comportamentos pombalinos, perseguindo crucifixos e outros símbolos cristãos "ignobilmente expostos nos espaços públicos da república". Quais dráculas de bolso, vituperam com argumentos carregados de religiosa laicidade, acusando com fervor insuspeito todos os que não cumprem os preceitos da doutrina laica republicana: há que retirar os símbolos religiosos (leia-se crucifixos) das escolas. Instalou-se a caça à cruz.
Pois então, ó senhores da república, não se esqueçam de a arrancarem também das comendas e condecorações com que anualmente ataviam Bonos e outros que tais.
Amputem também, e já agora, os bracinhos ao Cristo Rei.
A seguir, presume-se, seguem-se as salgas às hortas de alhos e o encerramento das minas de prata, não vá aparecer por aí algum Lone Ranger a fazer companhia à chusma de Tontos que esbracejam e estrubucham em inquietudes congénitas, pelas pradarias, vales e montanhas cá do Reino. Singui gai ai upi upi ai...

8 Comments:

Blogger Paulo said...

Amigo Afonso, quem se espetou foi Cavaco, ao deixar vir ao de cima mais uma das suas raras "opiniões. Deixo-o com um texto do Jumento, que subscrevo na integra:

Retirar um crucifixo da parede de uma sala de aula só em mentes muito mesquinhas pode ser entendido como uma ofensa ao catolicismo dos portugueses, trata-se de gente que ainda sonha com a evangelização forçada. No mesmo país onde muitos bispos não permitem que nas suas dioceses as crianças sejam baptizadas porque os pais não são casados pela Igreja, são agora esses mesmos bispos fundamentalistas que querem impôr os símbolos religiosos aos que não partilham da sua fé. São os mesmos que em tempos ainda defendiam a obrigatoriedade das aulas de “religião e moral” ou que em muitos domínio consideram que a lei penal deve ser o equivalente a uma sharia católica.
Só confunde catolicismo com imposição dos valores do catolicismo, os que não percebem que a religião deve ser a emanação da liberdade e não um subproduto da ditadura.
Cavaco Silva não resistiu à tentação de ganhar alguns votos à custa da decisão do governo de retirar os crucifixos das escolas, apressando-se a mostrar a sua admiração ou melhor, a indignação mal disfarçada. Esta recaída oportunista foi desnecessária, o fundamentalismo religioso, que em Portugal anda de mão dada com os resíduos da ditadura de Salazar e Cerejeira, são o seu eleitorado mais firme, aliás, o grande trunfo de Cavaco é preencher todos os requisitos que a extrema-direita envergonhada mais aprecia. Foi o primeiro erro grave de Cavaco Silva.


Boa noite

12:04 da manhã  
Blogger Mário Almeida said...

As declarações de Cavaco foram estas

Em declarações ao Correio da Manhã, o candidato à Presidência da República afirmou que, “face aos desafios que o País enfrenta, não é certamente este [os crucifixos] o problema que preocupa os portugueses”. Disse ainda que sabe bem que “nos termos constitucionais há uma separação entre o Estado e a Igreja, mas não se pode ignorar que na sociedade portuguesa predominam os valores do catolicismo”. Recordou, a este propósito, que “Portugal tem sido um País onde existe uma boa relação entre o Estado e a Igreja, ao mesmo tempo que se verifica uma grande tolerância em relação às diferentes religiões e mesmo um diálogo e respeito entre elas”.

O ex-primeiro-ministro considerou que essas relações de respeito e diálogo entre as diferentes religiões “são um importante activo que devemos preservar e não criar divisões onde elas não existem”.

Correio da Manhã

12:37 da manhã  
Blogger David Afonso said...

1. Afonso: o laicismo não é exclusivo das repúblicas, mas uma marca civilizacional das sociedades abertas e democráticas, nas quais incluimos as monarquias constitucionais europeias;
2. Mário: o que está aqui em causa não são os valores que predominam na sociedade portuguesa, mas a defesa da escola laica (das duas uma: ou o crucifixo tem apenas um efeito estético e não se percebe o alarido levantado, ou o crucifixo tem um significado religioso e não se percebe o alarido levantado, isto se partirmos do pressuposto de que a escola deve ser laica). O laxismo também é um valor predominante na sociedade portuguesa e decerto que não o pretende ver incentivado nas escolas pagas pelos seus impostos.

2:26 da manhã  
Blogger Paulo said...

Caro Mário, deixa lá os detalhes do discurso; o que interessa é que Cavaco resolveu alinhar-se do lado daqueles que não concorda muito com a retirada dos crucifixos. É isso que ele deixa perceber do seu discurso sempre enigmático. Foi isso que percebeu o amigo Afonso e muitos outros Portugueses. E Cavaco meteu a pata na poça, para mal dos seus pecados e para minha alegria (moderada).

Um abraço

8:51 da manhã  
Blogger Mário Almeida said...

Caro David,
Eu estou de acordo com a medida. O meu comentário foi no sentido de fazer ver que as palavras de Cavaco foram moderadas e não radicais como transparece do post do Jumento.

Caro Paulo,
Os detalhes, como lhe chamas, de um discurso podem fazer toda a diferença. Até uma vírgula pode mudar todo o sentido.
Dizes que Cavaco resolveu alinhar com o "contra", digamos assim. Muito bem. Agora eu pergunto-te : Sendo Cavaco católico, o que dirias se ele se tivesse mostrado a "favor" ?

Disse que era a favor da medida, mas não posso deixar de concordar com o Afonso quando ele “reclama” ironicamente que se retirem então todos os outros símbolos.
Este problema não existia na sociedade portuguesa, embora não duvido que houvesse muitas pessoas que se sentissem ofendidas. Aliás, tanto quanto se sabe, foi por causa de queixas de pais que foram emitidas as instruções à escola. Mas objectivamente, não havia nenhuma crise nacional, e aí, meus caros colegas, Cavaco esteve bem quando disse : “face aos desafios que o País enfrenta, não é certamente este [os crucifixos] o problema que preocupa os portugueses”.

O nosso Estado laico é aliás bem peculiar nesse aspecto. Crucifixos nas escolas, uma estátua enorme de Cristo a olhar para a capital, acordo com a Igreja católica, etc. A verdade, parece-me, é que o Portugal republicano nunca foi lá muito laico.

10:29 da manhã  
Blogger Biranta said...

A manutenção dos crucifixos nas escolas nada acrescenta, pelo contrário: diminui, ao prestígio e idoneidade da religião católica...
Nem percebo porque é que uma coisa tão óbvia é motivo de polémica. Só pode ser a "imposição da simbologia da prepotência e do arbítrio"...

12:08 da tarde  
Blogger Pedro Santos Cardoso said...

Uma benção, a retirada dos crucifixos!

7:29 da tarde  
Blogger Mário Almeida said...

:-)

11:32 da tarde  

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