O Eleito

segunda-feira, novembro 28, 2005

Entertainers

Cavaco Silva sempre falou pouco. Sempre foi comedido. Mesmo quando era Primeiro-Ministro, media as palavras como até hoje nenhum político o fez. No pólo oposto teremos talvez Santana Lopes. Falava todos os dias e em horário nobre.

Há um efeito imediato desta opção. As suas palavras são analisadas à lupa, comparadas com anteriores declarações, guardadas na memória colectiva. As frases infelizes são glosadas eternamente e os momentos embaraçantes entram directamente para o anedotário nacional.

E ninguém esquece. E toda a gente se lembra :
- Por que é que agora não ataca ninguém, quando há 10 anos atacava Jorge Sampaio ?
- Quem era a moeda falsa ?
- Em 1995 disse que se ia afastar da vida política. Porquê o regresso ?
- E o bolo-rei ?
- E os cinco minutos de jornais ?
- E como e porquê é que os ministros foram embora.
- E a imagem com Sá Carneiro de 1985 ? Hã ? Como é ?

Mas registe-se a diferença.

- Há menos de um ano, Soares disse que era uma “loucura” candidatar-se novamente. É confrontado, faz uma piada sobre a idade, e com duas de letra a coisa passa.
- Manuel Alegre disse quando se apresentou pela primeira vez, que se não houvesse mais ninguém para derrotar Cavaco, ele avançava. Passados dois meses já ninguém se lembra.
- Manuel Alegre que sempre fez parte do aparelho socialista e do qual esperava o apoio, vem dizer que se candidata pela independência dos partidos. E toda a gente faz de conta.

Há qualquer coisa na sociedade portuguesa que também tem que ser aprendida para não aceitarmos que uma piada feliz, desenrascada e oportuna é suficiente para justificar as opções políticas que se tomam.

Cavaco pode não saber responder às perguntas difíceis, mas a verdade é que ninguém sabe. O máximo que um político consegue é distrair a audiência. Cavaco não o consegue. Tudo bem. Também não o quero para entertainer.

1 Comments:

Blogger Biranta said...

Meu caro amigo, com todo o respeito pela sua opção... deixe-me fazer-lhe notar que: outras simpatias e/ou outros níveis de exigência podem determinar, com a mesma facilidade, outras opções. O que revela, aqui, é a sua "opção por simpatia, ou afinidade"; um critério tão subjectivo que cada um pode ter o seu... diferente.
Mas os candidatos dizem querer ser "Presidente de TODOS os portugueses"... e nenhum satisfaz os meus requisitos mínimos... nem os requisitos mínimos duma grande parte da população...
Quando se trata de cargos destes, é necessário encontrar alguém que consiga "estar acima" das "simpatias ou afinidades pessoais", afirmando-se como melhor opção do que aqueles (os das simpatias...).
Numa palavra: estou a falar de pessoas com verdadeiro perfil de líderes, não de pessoas que se reivindicam dum conjunto de condições para o serem, (como por exemplo a não filiação partidária), mas que não demonstram sê-lo.
Enfim... é a velha estratégia do "outro" que dizia ter a "capacidade" de fazer e desfazer presidentes...
Isto é tudo um embuste!

11:28 da manhã  

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