
Acabei de votar. A nostalgia do passado bate-me à porta e espreita-me à janela, invariavelmente, nestes dias de eleições. Sempre. Entrar na escola preparatória onde passei dois anos da minha infância, rever cada canto, cada bloco. Já não há «
os montes» lá atrás, como lhe chamávamos. Íamos sempre para lá, nos intervalos, lançar «
torresmos» uns aos outros. Verdadeiras batalhas campais. Agora, em vez de «
os montes», um campo de ténis. Mas o funcionário é o mesmo. Não mudou nada (ou, se mudou, não dei por isso): a mesma falta de cabelo, as mesmas costas semi-curvadas, as mesmas orelhas
Topo Gigio, o mesmo olhar perdido, que só recupera a consciência quando há uma tarefa a executar. Depois, verdadeiras relíquias saem do baú. Pessoas que já não via desde a infância. Por onde andarão elas em dias em que não há eleições? No caminho de regresso (fiz questão de ir a pé, este exercício de arqueologia faz-me bem), cruzei-me com uma colega da escola primária. Gostávamos, naquela época, um do outro. Nunca mais falámos, nunca mais nos vimos. Quando olhei para ela, foi tarde demais: já ela passava, perpendicular ao meu ombro. Não nos cumprimentámos. Os cem metros seguintes, caminhei-os com uma certa tristeza por não lhe ter falado. Pode ser que nas próximas eleições a reveja.
Este sentimento estranho acompanhou-me até chegar a casa. Mesmo na hora do voto estive sob este efeito narcótico.
Apesar de ter votado alegre. Mas, como disse há pouco, estes alfarrábios da memória, embora um pouco nostálgicos, fazem-me bem.
4 Comments:
Deixa lá. Acho que vais ter outra oportunidade dentro de pouco tempo. Mas desta vez não a deixes escapar ;)
e se ela votou Cavaco ?
:-)
Naa... Os amores de infância nunca votam Cavaco...
Espero que a minha namorada não se lembre de vir aqui...
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