O Eleito

sábado, janeiro 07, 2006

Votos & Proveniências 2

Num País em que a história recente tem mostrado uma vida política e eleitoral dominada pelos partidos e pelas candidaturas presidenciais que eles apoiam pode-se perguntar aonde pretenderá uma candidatura independente como a de Manuel Alegre ir buscar votos. Em princípio, a todos os sectores partidários, salvo o CDS/PP. Mas será assim? Aos Comunistas poderia tentar seduzir com o passado de oposição ao Estado Novo; mas o PCP, entre dois ex-membros seus, mais depressa favorecerá o candidato apoiado pela direcção do PS, que retirou o socialismo da gaveta em que o metera e, adoptando uma retórica esquerdizante, permite sonhos unitários, a pensar no dia em que o Eng.º Sócrates precise dos seus deputados. Ao Bloco de Esquerda seria capaz de retirar simpatizantes que vissem na figura do Poeta-Rebelde coisa mais contestatária que o próprio desengravatado maitre à penser, ou um político conotado com dezenas de anos de ocupação do poder. Ao PSD almejaria subtrair, pelo menos numa primeira volta, os votos dos santanistas magoados, os quais, não indo até aos finalmentes, quereriam, pelo menos, forçar a disputa da segunda. Mas hoje restam muito poucos. E aqueles escassos eleitores da área social-democrata que pretendessem votar Alegre, para evitarem o candidato mais perigoso na negra, devem estar agora em inversão de sentido de marcha, com as indicações de ser o Autor de «O Canto e as Armas» o candidato da Esquerda que melhor score conseguiria. Restam os oriundos do PS. Dos militantes que simpatizaram com o ex-Secretariado, talvez nem tanto, pois lembrarão o percurso conjunto dos dois Candidatos Socialistas e preferirão o discurso actual do outro. Mas sim dos muitos simpatizantes que foram votando neste a contragosto; e que, mal viram a nesga de uma oportunidade, se juntaram a outros sectores para proporcionarem o êxito, sem precedentes nem continuidade, que foi o PRD. Chegarão estas perspectivas?

5 Comments:

Blogger David Afonso said...

Essa é a angústia de Alegre (mas também a de Sócrates). Ainda acredito que Alegre possa «rapar o tacho» e ir buscar votos aos não-alinhados. Quanto ao CDS/PP talvez o poeta vá picar aí qualquer coisa. Ainda um dia destes estive a conversar com um dirigente da JP, o qual me garantiu votar Alegre e que não estava só. Enfim, mas talvez não passasse de uma coligação de mesa de café...

4:40 da tarde  
Blogger Paulo Cunha Porto said...

Meu Caro David Afonso: a demarcação da Juventude Popular em relação ao apoio do partido ao Prof. Cavaco seria bem susceptúvel de levantar a dúvida sobre o voto dos seus membros. Só não considerei o caso porque os próprios dirigentes da organização falaram a propósito, sempre, de «mera oportunidade perdida» e de «abstenção da CAMPANHA». Sendo tão pouco intenso o nível de hostilidade levantado, acredito que, no segredo do local de voto, o que triunfará venha a ser o que a sua felicíssima expressão condensou: mera intenção pia, alfim negada pelo acto...

7:22 da manhã  
Blogger Biranta said...

Para quem se declara abstencionista (tal como eu), o meu amigo está a esquecer-se da verdadeira avalanche que é esse sector (dos abstencionistas). Repare que, à excepção das legislativas (onde a abstenção se situa nos 35%), a abstenção situa-se nos 45%. Sampaio, essa "coisa" que, actualmente, é o Presidente (não sei de quem, porque meu não é: considero-o um traidor e um conspirador), foi eleito com, APENAS 27% dos votos, no total dos eleitores... bem abaixo dos 45% de abstencionistas...
O que o meu amigo pode lamentar (e eu lamento também) é que, de entre os candidatos, não haja algum capaz de mobilizar essa gente (uma parte dessa gente bastaria...). Teria a eleição ganha, sem dúvida! No entanto, antes das eleições, é sempre cedo para "cantar vitória", porque são esses, os abstencionistas (devido ao seu elevado número), que podem decidir a eleição; esses são os eternos "sem voz" nem direitos e nenhuma sondagem reflecte as percentagens, reais, de abstencão... por isso não se sabe o que pensam, nem o que tenciona (ou podem) fazer...
Pode ser que toda a manipulação montada, que inclui as sondagens, resulte, mas também pode ser que não...
Do que eu tenho a certeza é de que "um dia a casa cai..."
De qualquer modo, acho que posso concluir que o meu amigo, ao contrário de mim, não é um abstencionista convicto e militante, mas ocasional.
Um abraço e seja bem vindo!

12:17 da tarde  
Blogger Paulo Cunha Porto said...

Meu Caro Biranta:
Não sei de onde conclui pela natureza ocasional do meu abstencionismo em "presidenciais". O certo é que nunca votei, nelas. Como penso que todos têm o direito de saber com o que contam, passo a explicar: creio firmemente que a única hipótese de reabilitação da nossa vida pública passa pela restauração da Monarquia. E como comecei a acreditar em tal antes da maioridade, nunca optei, em "presidenciais".
Tento é que as minhas convicções não "empanem" o discernimento das análises que faça. Claro que o meu Caro Amigo tem inteira razão, ao dizer que qualquer mobilização do eleitorado não-votante daria uma vitoria de bandeja. Mas, como diz, que candidato é capaz de lhe modificar os intentos? Só que, atenção, volto a dizê-lo, não sinto desgosto demasiado com essa situação. Os meus lamentos ficaram numa altura anterior, quando, sem perguntar a ninguém, uma insurreição decidiu que a Chefia do Estado passasse a representar apenas parte do País. Agora, tento não fazer disso uma venda.
Agradeço, sinceramente, a recepção que me dispensou.

1:32 da tarde  
Blogger Biranta said...

Desculpe, Paulo!
É que eu sou abstencionista em TODAS as eleições, não apenas nas presidenciais (até porque também não acredito nas "virtudes" da monarquia, embora conceda lhe reconhecer razão quanto ao regicídio... Mas a história não anda para trás; e se condeno os métodos (acho que têm de passar a ser adoptados outros, mais civilizaddos e dignos, mais democráticos) também não acredito que a adopção doutros (métodos) resulte na restauração da monarquia...
Mas esta é, apenas, a minha opinião... Opiniõies à parte, o que me "mobiliza" são as condições para a resolução dos problemas do país e a resolução dos problemas do país que, de todo, não está dependente de existir, ou não, monarquia, mas sim da dignidade, honestidade e idoneidade de quem ocupa os diferentes cargos do poder. É que essas qualidades não são exclusivas duma linhagem...

4:19 da tarde  

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