O Eleito

sexta-feira, novembro 25, 2005

A Política Externa De Cavaco Silva

(a grande ausente do discurso)

Cavaco Silva foi esta semana o convidado do American Club of Lisbon e escolheu essa ocasião para explicitar o seu pensamento actual sobre a política externa portuguesa. Esse pensamento reduz-se a duas ideias: empenhamento de Portugal na União Europeia e relação de complementaridade com os EUA. Quanto ao método é o da convergência institucional estratégica entre o Presidente e o Governo.

Em geral a intervenção de Cavaco Silva foi seca e curta. Intencionalmente o candidato da esquerda moderada deixou de fora os assuntos mais relevantes da política europeia e mundial e conseguiu a obra-prima de não dizer uma única palavra sobre o mundo que fala português, do ponto de vista da do interesse estratégico da política externa portuguesa e de omitir completamente os problemas com que a União europeia está confrontada. Muito menos concedeu à plateia o privilégio do seu programa para resolver o impasse europeu.
E se existe área onde o Presidente, mesmo no nosso regime semi-parlamentar, tem competências específicas e onde, desde logo por essa razão, se justificava uma franqueza e sinceridade ideológicas, essa área é justamente a da política externa.

Aprendiz de Thatcher quando chegou ao Governo, apoiante confesso do MPLA no período mais sangrento da guerra em Angola, entusiasta até à exaustão e subscritor do federalismo europeu masstrichiano, adepto devoto da moeda única europeia, o candidato desiludiu mais uma vez com ideias gerais que qualquer pessoa pode subscrever. Parece ser esse o estilo escolhido para ser uma segunda versão de Sampaio até às eleições, para não perder um único votinho, que perante um deslize concreto, possa voar para outros candidatos.

O candidato aproveitou para afirmar uma ideia perigosa. A de que em política externa o país deve falar a uma só voz e englobou “nesse” país os orgãos de soberania, o que não se discute, antes se aplaude e também as forças políticas. Ora aqui está uma ideia. Má, mas uma ideia. Era o que faltava que não pudesse e devesse haver debate e posições plurais sobre a política externa portuguesa. Essa necessidade é tanto maior, aliás, quanto incerto é o pensamento do candidato sobre o assunto.

Post-Scriptum: O Semanário comemora amanhã mais um aniversário. Oportunidade para felicitar todos quantos ao longo dos anos o construíram e os que hoje o continuam. Num momento de concentração de meios de comunicação social é mais importante ainda a existência de órgãos não alinhados e livres como é este jornal, no qual é uma honra poder colaborar.

(publicado na edição de hoje do Semanário)

1 Comments:

Blogger Biranta said...

Este candidato é assim... Tal e qual como o descreve Cadilhe...
Imaginação? (aquela coisa que Einstein dizia ser preferível ao conhecimento, em tempos de crise), Essa manifesta-se, habitualmente, na espontaneidade, que não há...
Digamos que é mais um dos candidatos que nada vale, por si, que não tem ideias próprias, mobilizadoras; que vai sendo "levado ao colo" pelos interesses inconfessáveis de gente que precisa de se esconder atrás destes "monos"...
Esses interesses inconfessáveis (ou conjugação de vários interesses inconfessáveis) sim; acham que podem tudo, basta usar a estratégia certa, em matéria de manipulação e publicidade enganosa...
Veremos! Por aqui "estamos" preparados para tudo...

12:06 da tarde  

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