A Farsa
Esta campanha presidencial é uma ficção. Nenhum candidato faz verdadeiramente campanha presidencial. Nenhum candidato aborda temas imediatamente relacionados com a presidência. Só o fazem quando questionados directamente, e de uma forma abstracta «Se eu for Presidente, procurarei conciliar...» «Se eu for Presidente, procurarei o consenso...» «Se eu for Presidente, procurarei criar condições...». Preferem, antes, discorrer acerca de temas atinentes à governação – especialmente o Professor Cavaco, apenas talhado para assuntos económicos. Porque sabem que é isso que realmente interessa às pessoas. As pessoas querem alguém que lhes resolva os problemas. Um Messias. Que transforme o seu país numa Califórnia. Que melhore as suas condições de vida. Assim, é vendido gato por lebre. O teatro está montado: os actores fazem o seu papel – numa peça já antes escrita – e o público aplaude porque gosta da encenação.
10 Comments:
Não é que eu discorde de ti, Pedro,
(embora ache que está a ser um bocadinho imparcial ao apontar apenas o Cavaco), mas então o que é que nesta campanha e nestas eleições mudou ?
Não foram todas as eleições presidenciais posteriores à revisão constitucional de 82, baseadas nos pressupostos que enunciaste ?
Não será antes um descontentamento teu com o actual sistema, e que no fundo todos partilhamos, que te leva a esperar mais da eleição presidencial do que ela tem realmente para oferecer ?
Não tenho nenhum descontentamento, Mário. Apenas penso que os temas escolhidos para debate ~têm pouco a ver com as funções presidenciais - esses temas, aliás, já foram recentemente discutidos nas legislativas, a sua sede própria.
Não estou a ser parcial. Eu disse «nomeadamente Cavaco», não apenas Cavaco. O facto é que ele, mais do que os outros, fala coisas como voltarmos a ser a Califórnia da Europa. Ainda há pouco ouvi Soares no debate com Alegre (está no intervalo) a criticar precisamente isso. Soares, por exemplo, entra muito menos nesse jogo.
O sistema semi-presidencialismo é uma farsa. De acordo.
Cavaco será sempre preso por ter e por não ter. Às vezes é porque não fala e quando fala é porque não importa nada aquilo que ele fala.
E isto quando Cavaco se apresenta como o único candidato com moderação suficiente para não colocar o país numa situação de pre-PREC.
Quanto a mim, caro Salvador, defendo o semi-presidencialismo.
então o que é que se deveria discutir nos debates?
Os poderes do Presidente, não do Governo. A esfera governativa é competência do governo e foi já discutida nas legislativas.
Ah pois! Pelo teor do post e dos comentários, há por aqui muita gente que defende que o Presidente deve, mesmo, é ter "papel de embrulho". Então para quê eleger um e gastar dinheiro com ele?
Se as instituições funcionam, ou não, se a situação se degrada, ou não, etc. etc., isso deve ser entendido, como até agora, como sendo culpa "do S. Pedro", fatalidade, em que não há nada a fazer, que nada tem a ver com o facto de as instituições funcionartem, ou não...
Marcianos!
os únicos poderes do presidente são o veto de propostas legislativas e a dissolução do Parlamento. O Presidente não pode fazer nada, mas tem o poder de impedir os outros de fazerem.
Na I República acontecia o mesmo. Na altura era o Senado que tinha esse poder. Como se sabe, a I República funcionou tão mal, tão mal, que quase toda a gente agradeceu quando deitaram abaixo o sistema democrático.
A minha pergunta para o Pedro é esta: então o que é que se há-de discutir nos debates? As leis que eles vão vetar e em que circunstâncias vão dissolver o Parlamento? Em vez de debates tinhamos previsões do futuro.
Podia ser bom, os debates acabavam em 5 minutos, com as respostas banais de sempre.
Como saberá, Salvador, os poderes do Presidente não são muitos, mas não se resumem, de modo algum, ao veto e à dissolução do Parlamento.
Tenho dito, várias vezes (e mantenho) que sei como resolver os nossos piores problemas, em pouco tempo. Não é novidade: basta pôr as instituições a funcionar, dar resposta adequada aos problemas concretos, NO TERRENO... ter um pouco de imaginação, de clarividência e de firmeza para implementar, duma só vez, um conjunto de medidas que façam inverter a situação que vivemos de forma irreversível...
E, mesmo respeitando os limites dos "poderes presidenciais", se alguém me perguntasse qual o cargo mais adequado para "alavancar" todas essas transformações, eu responderia, sem hesitar: "o do Presidente". Porque é o cargo mais abrangente e mais influente e porque as medidas necessárias têm de "ser abrangentes"... para além de ser necessário garantir uma "postura de sentido de estado", de forma a acabar com os problemas salvaguardando as pessoas; não existe país sem povo... Isso só se pode fazer a partir da presidência...
Com o "nosso" panorama político, todas essas coisas simples que poderiam mudar, de vez, a nossa vida, são apenas MIRAGENS! Basta olhar para a cara dos candidatos e escutar os absurdos que dizem para o perceber...
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