O Voto Nulo
Na caixa de comentários d'O Misantropo Enjaulado, o seguinte comentário: «(...) lamentações daqueles que notam ausência da opção "Nulo" nas votações decorrentes n'O Eleito!». Eu explico. Na verdade, considera-se voto nulo: aquele que tenha uma cruz em mais de um quadrado; aquele que estiver assinalado numa lista que desistiu; aquele que contenha qualquer corte, desenho, rasura ou no qual tenha sido escrita qualquer palavra; o voto antecipado quando o boletim de voto não chega nas condições legalmente previstas ou seja recebido em envelopes que não estejam devidamente fechados; aquele em que haja dúvidas quanto ao quadrado assinalado.
Penso que tal só acontecerá intencionalmente em casos absolutamente marginais. Por exemplo: o sr. X sai de casa para votar e, deliberadamente, rasga o boletim de voto a meio e cola-o com fita-cola; o sr. R sai de casa para votar e, deliberadamente, escreve uma cruz em cada candidato; o filho do sr. X, o jovem de 18 anos T, sai de casa para votar e, deliberadamente, faz graffiti no boletim de voto.
A esmagadora maioria dos que viram os seus votos serem declarados nulos não previram nem era sua intenção que tal situação ocorresse. Portanto, não se pode aferir das suas intenções de voto.
PS: 1] A categoria do voto nulo tem os dias contados. O voto electrónico ditará a sua hora. 2] Hoje é o dia do arranque oficial da campanha eleitoral. A sorte está lançada.
12 Comments:
Eu já presidi a uma mesa de voto e TODOS os votos nulos contabilizados foram INTENCIONALMENTE anulados pelos respectivos eleitores... alguns com palavrões, outros com uma cruz de alto a baixo...
No entanto, não se me dá que os votos nulos desapareçam; até porque "a raiva" e indignação que as pessoas manifestam assim pode ser mais útil se reprimida e manifestada em local próprio...
Estou de acordo com o voto electrónico... desde que se não faça como na América, com a eleição de Bush, em que foram utilizadas autênticas "máquinas de votar"... electrónicas...
Mas isso... tudo se acaba por saber!
Admito que possa estar enganado, Biranta. Se o estou, foi um erro meu não ter colocado uma secção para os nulos. Mas continuo com dificuldade em conceber que votos intencionalmente nulos não sejam casos marginais... De qualquer forma, venha o voto electrónico!
Caro "Eleito":
Enquanto o voto electrónico vem e não vem, e em Portugal isso pode significar alguns anos, o voto nulo existe e conta. É uma forma de manifestar uma posição autêntica, mesmo que as particularidades de cada mensagem não sejam discriminada nos resultados finais. No entanto, pertence à democracia que haja a contabilização dos votos nulos, manifestações daqueles que, estando em desacordo com a votação ou com o sistema (neste caso presidentista), não deixam de exercer a cidadania, votando. Classificar o voto nulo de marginal, é absolutamente ofensivo para todos aqueles que manifestam a sua opção através de uma cidadania activa e genuína.
Quanto à desculpa de amanhãs que cantam como a do triste voto electrónico, parece-me esfarrapada no mínimo. A votação que aqui decorre é afinal sobre as próximas eleições presidenciais ou sobre algumas outras que utopicamente virão?
Diz-se no fim deste post (que repito, é irracionalmente ofensivo) que a "sorte está lançada". Pois bem, penso que aqui os "dados estão viciados"...
Sem mais e cordialmente,
AVC
Caro Sandokan
pelo seu comentário, dizendo que o meu post é «irracionalmente ofensivo», uma vez que classifica o «voto nulo de marginal», só posso depreender que não entendeu o significado da palavra «marginal» no contexto. Como saberá, as palavras são polissémicas. No texto, quis afirmar com tal palavra apenas que os votos intencionalmente/deliberadamente/propositadamente nulos são em reduzido número. Pode até discordar da minha opinião, mas afirmar que o meu post é ofensivo é fantasia sua.
Se o objectivo não era esse, talvez o Senhor Professor de Português devesse escolher palavras menos dúbias. Usar a palavra "marginal" associada aos exemplos que apresentou para pretensamente querer mostrar apenas o vandalismo do voto nulo, é perigoso pois mostra bem o sentido que se quer dar à palavra "marginal". O voto-graffiti (nunca vi, mas acredito), o voto-bárbaro de quem, num acesso de raiva, rasga o boletim e depois o cola, o voto-malvado do homem que inscreve uma cruz em cada quadrado... sinceramente, se é fantasia minha, ainda bem. Mas se é esta a mensagem que passa, talvez não seja eu que entendi mal, mas sim alguém que não se explicou bem...
Meu caro Sandokan:
Se eu tivesse escrito «tal só acontecerá intencionalmente se feito por marginais», o Sandokan teria toda a razão. Mas repare que eu escrevi «tal só acontecerá intencionalmente em casos absolutamente marginais». Isto é, a palavra «marginais» refere-se à palavra «casos». Ou seja, os casos são marginais, não os eleitores. E o que é que significa «Marginal»? Segundo o dicionário da Lello: adj. 2 gén. da margem; que está à margem; diz-se do assunto, questão, aspecto, etc., de importância escassa e secundária; s. m. pessoa que vive à margem da sociedade. Ora, no meu texto, claramente dei o significado de «assunto, questão, aspecto, etc., de importância escassa e secundária».
Expliquei-me bem, sim, portanto.
Caro Sandokan:
esqueci-me de lhe agradecer o epíteto de "Senhor Professor de Português". É sempre uma honra. Todavia, lamento desapontá-lo. Navego mais pelo mundo da advocacia...
Tem razão, sem dúvida, Pedro! O voto nulo tem uma expressão marginal, ao contrário da abstenção. Por isso eu não voto nulo!
Caro Biranta:
Custa-me que a ideia que alguém não vote nulo porque a maioria se abstem...
Amigo sandokan!
Receio não poder fazer nada por si!
Digamos que eu estou, mesmo, é com as maiorias... mas não é bem isso! Acho que o que se justifica é abstenção.
A diferenciação e o apelo ao voto nulo (ou branco) é que são mais uma forma de exclusão da opção maioritária, de elitismo.
O que importa é perceber e respeitar as opções e motivações dos outros, não impôr os "comportamentos" que nos parecem mais apropriados, "explicados e explicáveis". Até porque as nossas avaliações são subjectivas e a democracia é, por essência, maioria...
Perdoe-me o amigo Biranta, mas nesse aspecto sou romântico: acredito nas causas que "devem ser", mais que nas que "são"...
Oh meu amigo! O problema não é acreditar nas causas mas "tornar as causa credíveis". A democracia, para sobreviver, tem de incluir as pessoas, TODAS AS PESSOAS, independentemente das suas opiniões ou opções. São as regras que têm de "ir ao encontro" das pessoas e não o contrário. Você só vai conseguir "convencer" as pessoas a participarem quando lhes demonstrar que isso é importante, para elas e não apenas para si e para os seus conceitos. Quando lhes demonstrar que elas têm importância e as suas opiniões e opções também... Até lá, se as pessoas são ignoradas, como acontece agora, continuarão a ignorar quem as ignora... Isto é claro e óbvio, consequência dos dirigentes e políticos que temos... nem sei porque é que é preciso explicar uma coias tão simples e evidente... Pois... Você assimilou a demagogia; a mesma que inverte as responsabilidades e "culpas", transferindo-as para "os outros", os cidadãos, quando elas cabem, por inteiro e por inerência, aos responsáveis e lideres... Que bom para eles que assim são inocentados de todas as culpas... quanta falácia. Só que "a vida" tem as suas próprias leis, que não se compadecem com falácias.
Portanto, não é uma questão de "acreditar" em causa, mas de as não serem utópicas, contra-natura e absurdas. Fiz-me entender? Deve ser difícil desfazer tanta ideia absurda...
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