Quase No Paraíso
A campanha para as eleições presidenciais deste mês está a atingir o cúmulo da esquizofrenia própria dos sistemas políticos decadentes e inviáveis. Senão vejamos: não encontramos dois candidatos seguidos que digam exactamente o mesmo sobre o conteúdo dos poderes que se propõem exercer. Passam os dias a recriminar-se mutuamente pelo modo mais amplo ou mais restrito como cada um interpreta os ditos poderes. Cada candidato dá-lhes um toque, apõe-lhes umas reticências, sugere-lhes uma dilataçãozita, consoante pensa que a respectiva pontuação é mais susceptível de agradar aquilo que julga ser o desejo secreto dos eleitores. Mas, por outro lado, todos afirmam em uníssono que os poderes como estão descritos na Constituição estão bem.
Louçã julga que o Presidente é o empregado de um guichet de reclamações. Jerónimo julga que pode transformar Belém num centro de trabalho gigante como já nem no Alentejo o partido tem. Alegre presume-se juiz do Tribunal Constitucional em relação ao Governo e à maioria, para aborrecer José Sócrates. Soares quer moderar e arbitrar em cinco anos como fez dantes em dez. Na primeira metade do mandato modera, na segunda arbitra. Cavaco quer sobretudo chegar lá e calará tudo o que tiver de calar e dirá tudo o que for preciso, só para lá chegar. O máximo a que aspira é sugerir ao Governo.
O país, caros leitores, lamento desiludi-los, mas ficará rigorosamente na mesma como estava antes deste carrossel eleitoral. A forma e o conteúdo desta campanha demonstra como o sistema ilude e engana os cidadãos. A ilusão passará quando o futuro Presidente começar a função. O engano subsistirá e o sistema julga que subsistirá eternamente, entre outras razões, para satisfazer o Prof. Vital Moreira, que acha que a Constituição é o fim da História, desde que O Capital do Karl Marx caiu no domínio público…
O paradoxo é o seguinte: para ter votos os candidatos precisam de prometer. Mas sabem de antemão que nada do que prometem poderão cumprir. É esta disfunção que está na origem daquele fenómeno de romaria a Belém a pedir a intervenção do Presidente a propósito das preocupações do dia-a-dia. E que leva a que a única reacção presidencial legítima e constitucional é a do Presidente se manifestar compulsivamente preocupado por tudo e por nada.
O sistema está quase a atingir outra vez o Paraíso.
Louçã julga que o Presidente é o empregado de um guichet de reclamações. Jerónimo julga que pode transformar Belém num centro de trabalho gigante como já nem no Alentejo o partido tem. Alegre presume-se juiz do Tribunal Constitucional em relação ao Governo e à maioria, para aborrecer José Sócrates. Soares quer moderar e arbitrar em cinco anos como fez dantes em dez. Na primeira metade do mandato modera, na segunda arbitra. Cavaco quer sobretudo chegar lá e calará tudo o que tiver de calar e dirá tudo o que for preciso, só para lá chegar. O máximo a que aspira é sugerir ao Governo.
O país, caros leitores, lamento desiludi-los, mas ficará rigorosamente na mesma como estava antes deste carrossel eleitoral. A forma e o conteúdo desta campanha demonstra como o sistema ilude e engana os cidadãos. A ilusão passará quando o futuro Presidente começar a função. O engano subsistirá e o sistema julga que subsistirá eternamente, entre outras razões, para satisfazer o Prof. Vital Moreira, que acha que a Constituição é o fim da História, desde que O Capital do Karl Marx caiu no domínio público…
O paradoxo é o seguinte: para ter votos os candidatos precisam de prometer. Mas sabem de antemão que nada do que prometem poderão cumprir. É esta disfunção que está na origem daquele fenómeno de romaria a Belém a pedir a intervenção do Presidente a propósito das preocupações do dia-a-dia. E que leva a que a única reacção presidencial legítima e constitucional é a do Presidente se manifestar compulsivamente preocupado por tudo e por nada.
O sistema está quase a atingir outra vez o Paraíso.
(publicado na edição d ehoje do Semanário)
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