«Ceci N'est Pas Une Pipe»
As eleições para a Presidência da República são sempre diferentes de qualquer outra eleição. Quando se escolhe um presidente o eleitor é convidado a suspender todas as regras da política ordinária, dado que, por um lado, os partidos dominam a quase totalidade do espaço político, por outro lado, o Presidente deve ser uma entidade mitológica supra-partidária. Logo, o nosso cálculo eleitoral faz-se por uma nesga aí entreaberta. É claro que a arte de fazer um presenciável é a de criar uma falsa nesga entre o personagem mediaticamente montado e as estruturas dos aparelhos. Ela não existe, mas é como se existisse. Não vale a pena denunciar as aparências, como a entrega do cartão partidário ou o uso de slogans como «O Presidente de todos os portugueses.» e não vale a pena porque são pequenas batotas que nós próprios permitimos aos jogadores, gostamos de ver esse jogo de bluff em crescendo. Alguém acredita que Cavaco entregou os seus próprios compromissos partidários em anexo ao cartão de militante? Ou que Soares deixará de ser socialista quando assumir o cargo? Ou que Alegre seja um verdadeiro independente? Ninguém. Mas deixamo-los entretidos. Afinal de contas o pudor só aparece com a maioridade cívica.
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