As Perguntas Sem Resposta
Sou forçado a reconhecer que o debate foi pobre em projectos e ideias para o futuro, aliás pobre talvez seja uma forma simpática de colocar a questão. Soares não teve ideias e é pena que alguns venham a dizer ao longo dos próximos dias que pelo contrário Cavaco está carregadinho de ideias e foi o mauzão do Soares que não o deixou falar. De qualquer forma, reconhecer "cooperação estratégica" e "um forte apelo ao consenso" como ideias, requer de mim uma capacidade que perdi algures entre a extrapolação dos poderes presidenciais e o papel determinante da economia para exercer um cargo exclusivamente político.
Portugal precisa mesmo de um presidente como o Cavaco, aliás merece-o. Está-nos nos genes este interesse pelas figuras deliberadamente misteriosas ou distantes. Está-nos no sangue a necessidade de termos alguém que se proponha a proteger-nos em contraposição às nossas vidas cinzentas e problemáticas. Precisamos todos como do pão para a boca de depositar em alguém a cada vez mais complexa tarefa de pensarmos por nós próprios.
Soares cumpriu o seu papel neste debate, não deixar que Cavaco faça um passeio na avenida... atacou-o como se esperava, explorou as suas incoerências, apontou os inúmeros cinzentos políticos do pensamento económico preto e branco do Professor. Este defendeu-se bem e não se deixou ir ao tapete.
O professor já está curado do torcicolo, já responde a provocações mas insiste em remeter para as suas "escrituras" se porventura tivermos o interesse em conhecer a profundidade do seu pensamento (a)político.
Soares provou com este debate que a história do candidato passado do prazo, velho e decrépito tem de ser definitivamente arrumada, independentemente de se gostar ou não do que ele tem para dizer. O problema de Soares é a sua estratégia...
A estratégia de Soares empurra Cavaco para um lugar com o qual todos os portugueses se conseguem rever, pela mesma razão que o Zé Maria se tornou um herói em Barrancos. A estratégia de Soares permite a Cavaco estar em sintonia com os filhos que sofrem do amargurado povo Português, ao mesmo tempo que atribuem a Soares uma determinada sobranceria e arrogância com a qual os portugueses lidam mal porque não sabem como se lhe opor.
Nada a dizer sobre a pretensão de Cavaco em liderar consensos em matéria económica. O problema é que os portugueses se preparam para comprar gato por lebre. O professor apresenta-se limpo de um passado com contestação social e até pode citar Jacques Delors em como os 10 anos da sua governação foram um "Oásis" ou uma "Califórnia", o problema é que Jacques Delors nunca viveu em Portugal e não foi um dos estudantes, agricultores, policias ou simplesmente cidadãos comuns que sentiram nas suas costas as bastonadas em nome da manutenção da ordem do Estado de Direito.
O problema de Cavaco não é pretender motivar as classes sociais para os consensos. O problema do Professor é não se conhecer a sua interpretação sobre os Direitos, Liberdades e Garantias que terá de garantir e fiscalizar como Presidente. O problema é não sabermos o que o Professor pensa sobre a "subordinação do poder económico ao poder politico" presente na constituição e se o professor considera ou não que os Direitos e Deveres Sociais são uma obrigação do estado em si mesmos ou uma consequência do desenvolvimento económico.
Acabam aqui os debates e ficam irremediavelmente muitas perguntas no ar em relação a todos os candidatos. Nesta altura não sei bem se elas vão ser respondidas, ou se porventura é objectivo dos candidatos respondê-las.
Portugal precisa mesmo de um presidente como o Cavaco, aliás merece-o. Está-nos nos genes este interesse pelas figuras deliberadamente misteriosas ou distantes. Está-nos no sangue a necessidade de termos alguém que se proponha a proteger-nos em contraposição às nossas vidas cinzentas e problemáticas. Precisamos todos como do pão para a boca de depositar em alguém a cada vez mais complexa tarefa de pensarmos por nós próprios.
Soares cumpriu o seu papel neste debate, não deixar que Cavaco faça um passeio na avenida... atacou-o como se esperava, explorou as suas incoerências, apontou os inúmeros cinzentos políticos do pensamento económico preto e branco do Professor. Este defendeu-se bem e não se deixou ir ao tapete.
O professor já está curado do torcicolo, já responde a provocações mas insiste em remeter para as suas "escrituras" se porventura tivermos o interesse em conhecer a profundidade do seu pensamento (a)político.
Soares provou com este debate que a história do candidato passado do prazo, velho e decrépito tem de ser definitivamente arrumada, independentemente de se gostar ou não do que ele tem para dizer. O problema de Soares é a sua estratégia...
A estratégia de Soares empurra Cavaco para um lugar com o qual todos os portugueses se conseguem rever, pela mesma razão que o Zé Maria se tornou um herói em Barrancos. A estratégia de Soares permite a Cavaco estar em sintonia com os filhos que sofrem do amargurado povo Português, ao mesmo tempo que atribuem a Soares uma determinada sobranceria e arrogância com a qual os portugueses lidam mal porque não sabem como se lhe opor.
Nada a dizer sobre a pretensão de Cavaco em liderar consensos em matéria económica. O problema é que os portugueses se preparam para comprar gato por lebre. O professor apresenta-se limpo de um passado com contestação social e até pode citar Jacques Delors em como os 10 anos da sua governação foram um "Oásis" ou uma "Califórnia", o problema é que Jacques Delors nunca viveu em Portugal e não foi um dos estudantes, agricultores, policias ou simplesmente cidadãos comuns que sentiram nas suas costas as bastonadas em nome da manutenção da ordem do Estado de Direito.
O problema de Cavaco não é pretender motivar as classes sociais para os consensos. O problema do Professor é não se conhecer a sua interpretação sobre os Direitos, Liberdades e Garantias que terá de garantir e fiscalizar como Presidente. O problema é não sabermos o que o Professor pensa sobre a "subordinação do poder económico ao poder politico" presente na constituição e se o professor considera ou não que os Direitos e Deveres Sociais são uma obrigação do estado em si mesmos ou uma consequência do desenvolvimento económico.
Acabam aqui os debates e ficam irremediavelmente muitas perguntas no ar em relação a todos os candidatos. Nesta altura não sei bem se elas vão ser respondidas, ou se porventura é objectivo dos candidatos respondê-las.
A unica certeza que tenho neste momento é que os portugueses não devem e não podem ficar em casa no dia 22, porque já é tempo de não permitirmos que outros decidam por nós.
5 Comments:
Zé! Repare bem no que você diz:
...
"Portugal precisa mesmo de um presidente como o Cavaco, aliás merece-o. Está-nos nos genes este interesse pelas figuras deliberadamente misteriosas ou distantes. Está-nos no sangue a necessidade de termos alguém que se proponha a proteger-nos em contraposição às nossas vidas cinzentas e problemáticas. Precisamos todos como do pão para a boca de depositar em alguém a cada vez mais complexa tarefa de pensarmos por nós próprios."
...
Pela parte que me toca, não sei o que você precisa, ou merece! Eu e a esmagadora maioria da população portuguesa, não merecemos isto, não pedimos, nada fizemos para o ter, estamos contra este estado de coisas e não nos cansamos de o dizer... A meu ver, foram estas as vozes e opiniões que faltaram no debate... Mas também não "estava previsto", nem me parece que seja isso que você defende.
Se o seu Portugal merece e quer, a mim não se me dá. Eu não mereço, não quero, estou contra... tal como a grande maioria da população. Por isso uma boa parte desses (mais de 45%) se recusam a embarcar nestas fantochadas (o exercício de cargos políticos deve ter outra dignidade, que não está garantida); por isso, tal como essa maioria da maioria, eu fico em casa, no próximo dia 22(?) de Janeiro. (Desculpe, mas é que eu nem sequer sei bem a data...)
Cara Biranta,
Repare na sua profunda contradição: para si "a mim não se me dá"...no entanto...faz finca pé em ficar em casa no dia 22. E defende acerrimamente que os abstencionistas devem ser contabilizados para a análise de resultados eleitorais!
Vamos ver se percebo: a solução para o problema é levantar uma bandeira " a bandeira dos que não têm bandeira" (diria eu)....e pronto. Qualquer candidato ou suposto candidato ideal, terá defeitos para muito mais de 45% dos eleitores.....não seja idealista (eu por vezes também cometo esse erro). As soluções, os problemas, as incógnitas ..não esperam...o tempo passa....não podemos esperar que surja aquilo que achamos que resolve. Temos de escolher, optar. Tal como o Zé diz...não podemos ficar em casa!!!...no seu caso votaria em branco..ou faria uns bigodes no boletim...mas não ficava em casa!
Não pode ser tão crítica...mas depois concluir que a solução é ficar de braços cruzados!
Se não há candidatos "respeitáveis"...a culpa também é sua...pense lá nisto!
Na sequência do comentário anterior que também era meu:
Falando do debate, algumas achas:
a) Soares usou uma "estratégia"...não falou deu caneladas..ou patadas...isto é digno de quem???
b) perante aqueles que dizem que os debates são fundamentais para a tomada de decisão...como é que alguém poderá votar soares perante a sua actuação de ontem???
c)Cavaco falou..disse na minha opinião mais do que o óbvio....explicou ao soares, por exemplo, o que era a globalização...sim foi professoral..claro Soares peidu-lher que o fosse. alguém sabe o que Soares pensa sobre a globalização???..será que o Soares pensa alguma banalidade sobre o assunto???...eu acho que sim!
d) Cavaco aguentou, esforçou-se por falar no meio das "cuspidelas"...e mesmo assim o debate foi pobre???...quem é pobre?
e)Soares atacou, humilhou, picou!...clap,clap, clap!..por isso segundo os seus apoiantes ganhou!
....uma vergonha...Soares saíria pela porta grande do "arquitecto do regime democrático português"...e vai saír pela porta pequena...do "estratega dos debates à navalhada"
Aguardo as vossas respostas!
Biranta tem razão sobre aquilo que provavelmente eu defendo... O problema é aquilo que eu imagino que o País pretende em cada momento (é um direito que assiste a todos nós), independentemente das vozes de protesto que por aí andem. A democracia é mesmo assim, eu tenho de aceitar, ainda que contrariado, a escolha que a maioria pode vir a fazer a 22 de Janeiro (é mesmo 22) e nesse sentido o País merece aquilo que vier a escolher... Claro que faltam vozes e opiniões nestes debates, nesta campanha e nesta politica em geral. Mas eu tenciono dormir descansado com a certeza de que eu e outros portugueses estarão atentos e principalmente conscientes que em democracia estas figuras podem sair de cena se nós (povo) estivermos interessados em ocupar os seus lugares. No entanto, isso não acontece se nos alhearmos da discussão e do debate de ideias não votando nas poucas possibilidades de fazer valer os nossos principios e valores.
Zé!
Lamento desiludi-lo mas, A MEU VER, "os nossos principais" valores não têm representantes na actual classe política. Não é por birra que eu não voto! É porque não há em quem votar! É esse sentimento dos muitos descontentes (com imensas razões para o serem) que tem de passar a ser levado em conta por todos, mas principalmente pelos que se preocupam com o futuro da democracia e do País. O que é inexplicável, para mim, é que mesmo aqueles partidos e políticos que se dizem de esquerda e preocupados com o povo, preferem se conluiar com os outros, com os reaccionários, aparar-lhes todos os golpes e colaborar para que mantenham o poder, do que considerar e ter em conta a vontade e as escolhas de cada um... Se os números, reais, fossem tidos em conta, baixaria um pouco a crista dos governantes que invocam maiorias que não têm.
ESte facto seria, para mim, um mistério, se não fosse evidente que não há um único partido suficientemente democrata a ponto de conseguir se confrontar com a sua própria inexpressão... Todos olham, só, para o seu próprio umbigo e, por isso, se conluiam todos para destruir, cada vez mais, a sociedade.
Dizer que o povo escolhe Cavaco é um insulto intolerável...
Paulo!
Não há contradição no que digo: Não se me dá quem vai receber mais votos, porque, para mim, são todos igualmente maus. Os problemas do país não se alteram, para melhor nem para pior, seja quem for o "eleito"...
Fico em casa sim porque, como já tentei explicar, para mim são todos iguais.
Não voto num candidato por ser o menos mau, nem isto é uma luta de boxe, onde a gente "protege e ampara o que tiver sido mais mal tratado... e trata de "castigar" o malvado.
O meu critério é outro:
Ou serve para poresidente, satisfaz os meus critérios mínimos, e eu voto; ou não serve e, portanto, não há volta a dar-lhe.
Pois se o voto é meu, o critério para escolher também deve ser o MEU, assim como acontece com cada um dos outros eleitores.
O que me preocupa e não aceito, é que a minha opinião, juntamente com a de todos os outros abstencionistas, não seja tida em conta... Até porque, é minha convicção de que, quando isso acontecer, as "coisas" começam a mudar: deixa de compensar a censura às ideias "não autorizadas" e as perseguições aos
que se evidenciam pela positiva. Os políticos deixam de poder ignorar as propostas de resolução dos nossos problemas, como agora fazem, deixam de poder ignorar os escândalos e as situações escabrosas, deixam de poder cruzar os braços em todas e quaisquer situações, terão de "correr" atrás das soluções e de tratar de as implementar, sob pena de perderem o tacho!
Lamento! Mas "eles" não percebem outra linguagem! São muitos anos de vícios perniciosos; são muitos vícios arreigados e instalados...
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