O Eleito

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O Tempo Das Mulheres

Vamos usar linguagem de leigo: segundo dados do Censo de 2001, a percentagem de população portuguesa do sexo feminino, ultrapassa a do sexo masculino. Nós somos mais.
Em idade activa, há mais mulheres, sobretudo em cursos superiores, terminando-os com maior índice de sucesso. Estudamos mais e melhor, e trabalhamos que nos fartamos, e bem. A maior parte dos quadros técnicos superiores da administração pública são femininos. Isto são factos. Não temos grande jeito para os pistons, é verdade; o macaco para levantar o carro pode tornar-se, nas nossas mãos, uma arma perigosa, mas esta cabecinha funciona toda bem oleada, a 200 à hora, com a segurança máxima.
Eu, quando tenho que ir ao médico, ao dentista, ao advogado, ao polícia, ao juíz, ao professor, ao ministro, escolho sempe a médica, a dentista, a advogada, a polícia, a juíza, a professora. Sei que me vão tratar eficiente, profissonalmente, sem que no final da sessão me dêem o tradicional puxãozinho na bochecha, "minha rica, ligue sempre que precisar, e mesmo que não precise!"
Toda a gente sabe isto: somos boas! É provável que até sejamos melhores, mas como isto não vai a concurso, não caminhemos por terreno incorrectamente pantanoso. Fiquemo-nos, apenas, com esta nebulosa dúvida pairando sobre os" nossos" ancestrais medos mediterrânicos.
A jornalista Fátima Campos Ferreira convidou cinco homens para debater o estado da economia. Cinco homens. Como sempre. Homens. Três, cinco, sete. Neste exacto momento. Na RTP 1. Porque em Portugal não há mulheres economistas, porque em Portugal as mulheres não se interessam pela situação económica, política, cultural do País, porque em Portugal queremos deixar a política e os carros nas mãos dos homens.
Grande mentira, nas mãos dos homens só queremos deixar os carros, porque são realmente uma chatice, e eles gostam - mas juro que se me ensinarem a mudar o óleo e os farolins e a substituir as borrachas dos limpa- párabrisas, e os pneus, juro!, eu aprendo com gosto e faço.
Uma das últimas vezes que se me esvaziou um pneu, foi uma menina que parou para me ajudar. Para me ajudar, quer dizer, para fazer o trabalho todo. Falámos sobre o assunto e ela motivou-me: disse que "nós temos de lhes mostrar que não precisamos deles para nada". E eu acrescentei, "pois é, tem razão, os grandes cabrões, pensam que precisamos deles para alguma coisa, estão lixados!" E ambas rangemos os dentes de irmandande satisfeita.
Mas por que motivo Fátima Campos Ferreira convida Miguel Beleza e não Manuela Ferreira Leite? Há muito tempo que as mulheres, excepto as do CDS-PP, que toda a gente sabe que não é um partido sério, nem sequer um partido, mostraram que sabem fazer política e que a fazem com maior honestidade. Gosto da Manuela Ferreira Leite, gosto da Leonor Beleza, da Ana Gomes. Porquê? Porque dizem verdadeiramente o que pensam, dizem-no independentemente da cor partidária a que se filiaram. Dizem-no à bruta, sem medo, sem paninhos quentes. E agrada-me esse confronto.
O futuro político está nas mãos dos/as kamikazes por conta própria, desses/as tais que não pagam os favores que devem, mordendo, de alguma forma, a mão ao "dono". Dos que têm vontade própria e se esqueceram de distinguir entre esquerda e direita. Porque já não existe essa dicotomia: há, sim, homens e mulheres formados num caldo de muitas ideias que é preciso ensaiar. Homens e mulheres menos cinzentos, mais informais, que sorriem, que dizem a verdade.


Ana Gomes


Pedro Mexia é talvez um dos mais recentes exemplos deste apartidarismo inconsciente e salutar. O Pedro começou por se declarar de direita, e é provável que o mantenha sempre. É-me indiferente. O Pedro tornou-se, sem querer, um opinion maker de esquerda. O Pedro pensa, frequentemente, à esquerda, e estou a vê-lo manter um diálogo interessantíssimo com o Miguel Portas ou a Joana Amaral. Porque gente inteligente, de mente aberta não pertence à direita nem à esquerda, mas ao que é justo, necessário e urgente realizar para obter movimentos de mudança, de inovação, criação.

Sou muito optimista em relação ao futuro. Espero por essas mulheres, que aí estão, prontas para trabalhar e mudar, todas as que a Fátima Campos Ferreira não convidou para o debate; espero pela caixa de Pandora que têm guardada. E eu bendigo essa caixa não perdida, apenas oculta, por milénios, no peito, na garganta, nas mãos, no cérebro das mulheres, esperando que lhes fosse restituído o corpo. E foi. As mulheres restituíram-se o seu próprio corpo. E este é o tempo das mulheres - que querem os homens, para, em conjunto, mudarem simultaneamente, os pneus, e o mundo. E tudo o mais que houver que mudar.
Eu pertenço a essas mulheres.

9 Comments:

Blogger David Afonso said...

Ar fresco! :)

1:29 da manhã  
Blogger Biranta said...

Há aqui generalizações que eu não subscreveria, em bom rigor, mas, no essencial, com este texto, a autoira consegue "demonstrar" a sua tese apresentando um exemplo de análise muitos pontos acima da generalidade (feitas, maioritariamente, por homens)...
De facto, os homens parecem ser mais "mobilizáveis" pela clubite, embora haja muitas excepções que têm de ser referidas, a bem do rigor...
Parabéns! Este post é "*****". Aborad as questões essenciais de forma muito lúcida!

1:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É inacreditavelmente verdade. Acrescento um exemplo concreto: surgiu recentemente em Évora uma nova fundação - a Fundação "Alentejo Terra-Mãe", supostamente destinada a promover e divulgar a cultura alentejana. A dita tem uma extensa Comissão de Honra que reune alentejanos conhecidos. Pois acreditem que em 2 ou 3 dezenas de ilustres (escultores, empresários, escritores, etc) não há uma única (uma unicazinha) mulher... Não duvido das boas e beneméritas intenções dos promotores, portanto resta-me aceitar que eles acreditam piamente nisto, o que é ainda mais grave. E é especialmente triste no Alentejo, já que cada alentejano humilhado no passado (e sofreu-se muito, é verdade) foi senhor sobre uma alentejana... São sempre as mulheres a carregar o maior peso. E nunca reconhecidas.
Muito bem, Isabella.

2:25 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

"Eu, quando tenho que ir ao médico, ao dentista, ao advogado, ao polícia, ao juíz, ao professor, ao ministro, escolho sempe a médica, a dentista, a advogada, a polícia, a juíza, a professora"

Este comentário não pretende ser um "enfiar do barrete de atestado de menoridade intelectual que dona Isabela pretende enfiar aos homens". É, apenas, um comentário.
Na sua ânsia de procurar justificar o injustificável dona Isabela confidencia-nos que que escolhe a polícia ao polícia, a juíza, ao juíz e a professora ao professor, como se enquanto vítimas, queixosos ou alunos pudessemos escolher o sexo do(a) "atendedor(a)"

"Sei que me vão tratar eficiente, profissonalmente"

Bom proveito pelo atendimento "profissonal" [sic]... eu entre os dois géneros, prefiro o género competente.

8:31 da tarde  
Blogger Isabela Figueiredo said...

O senhor Pedro Oliveira dirigiu-se ao meu blog, fazendo publicar duplamente este seu oportuno comentário, indicando que tmabém o havia feito aqui. Não posso, neste caso, deixar de responder, dada a insistência.

Esta foi, ipsis verbis, a resposta que lhe dei no meu blog, e que também aqui edito:

Senhor Pedro, considerando que publicou o comentário duplamente, em dois blogs diferentes, deduzo que anseia por dar-me a conhecer o seu ponto se vista, seja ele qual for, e anseia por resposta. Respondo-lhe, pois, de imediato: o seu comentário revela alguma desordem ao nível da organização e expressão verbal, pelo que, mesmo com a melhor boa vontade, não consigo descortinar os seus louváveis fins. Há boas professoras de Português; lamentavelmente, deve ter-lhe calhado... um professor.

(comentário que vou publicar, já a seguir, nO Eleito, olarilas!)

Ah, e tenho mais uns textozinhos feministas, abordando questões da coisa pública, que, certamente, muito lhe agradarão!

10:40 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Deduziu mal.

Os professores afinal calham... pensei que eram escolhidos.

"revela alguma desordem ao nível da organização e expressão verbal"

verbal?

Ok.

11:02 da tarde  
Blogger Mário Almeida said...

Tens toda a razão, David.

Não há nada como uma mulher para dar uma varredela na casa, limpar as teias de aranha e abrir as janelas para entrar ar fresco.:-)

2:12 da manhã  
Blogger Biranta said...

Oh, Vocês, desculpem lá mas... não se importam de "elevar o nível". É que, no meu primeiro comentário, disse que os homens parecem ser mais mobilizáveis pela clubite... Mas não posso deixar de reconhecer que o feminismo, puro, é, também, uma forma de clubite... onde se admitem todas as generalizações, algumas bem pouco "esclarecidas". Eu, por exemplo, acho que a "selecção" de mulheres como Manuela Ferreira Leite, para altos cargos, é a mais pérfida e refinada manifestação de maxismo... porque ela não presta (e não passa a prestar, apenas porque é mulher...)
Mas a resposta do Mário, indicia que ele "está a pedi-las"...

2:08 da tarde  
Blogger zazie said...

caixa? que caixa de Pandora??!?

então eu a julgar que o ar político já estava saturado e ainda querem lançar-lhe mais vícios

":O)))

2:34 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

Powered by Blogger