Do Erro À Hipocrisia

Manuel Alegre errou ao faltar às votações do Orçamento de Estado. Goste ou não, é deputado. E essa condição não é intermitente. Se Alegre acha que é incompatível a condição parlamentar com a de candidato, suspende o mandato ou desiste de ser candidato. Mesmo se pensar que não é incompatível (apreciável, verdadeiramente enternecedor, o rigor institucional a este propósito manifestado pelo candidato Cavaco Silva ...), Alegre podia ter votado com declaração de voto onde explicasse as suas dúvidas , reservas ou até discordâncias.
Mais: ao contrário do que porventura terá pensado, o voto no Orçamento não lhe seria eleitoralmente prejudicial. O tão apetitoso centrão eleitoral veria nessa atitude uma postura séria e responsável de homem que assume, mesmo correndo o risco de tomar uma posição que eleitoralmente lhe fizesse perder uns votitos das margens esquerdas, os seus compromissos até ao fim.

Mas passemos do erro, já explicado, à hipocrisia.

O PS, vingativo, chico-esperto, julgou ver no lapso de Alegre uma oportunidade de ouro para encostar o candidato às cordas e acusou-o de violar os deveres constitucionais dos deputados. Só que um problema pequenino ensombrou esta estratégia que parecia congenitamente infalível. É que além de Alegre, um quinto dos deputados fizeram o mesmo. E com esses o PS não se incomodou. O que obviamente retira credibilidade a esta indisposição partidária. E denuncia uma elevada dose de hipocrisia política, só proporcional ao erro cometido pelo candidato.