O Eleito

segunda-feira, novembro 14, 2005

Prof. Cavaco, O Austero

[A Política, segundo o Prof. Cavaco]

Coisas há que me irritam nesta campanha presidencial. Uma delas é a de terem obrigado o professor a vestir um fato que não lhe serve e que até é desajustado à ocasião: o de austero e renitente mago das finanças. Não pondo em causa o espírito democrático do candidato - sobre o qual não tenho qualquer dúvida - devo, no entanto, manifestar o meu desagrado por a equipa do professor Cavaco eleger uma linha de abordagem que o torna demasiado próximo de um outro ilustre estadista portugês: Salazar.
Exagero meu? Vejamos então: a) tal como Salazar, Cavaco alimenta um distanciamento (meramente platónico, é certo) do mundo da baixa casta política; b) tal como Salazar, Cavaco prefere que o retratem como um honesto professor universitário que cumpre dolorosamente a sua comissão política; c) tal como Salazar, Cavaco só se dispõe a descer do Olímpo «a bem da nação» e nunca por interesse próprio; d) tal como Salazar, Cavaco cultiva um certo ascetismo provinciano; e) tal como Salazar, Cavaco cultiva o mito do homem providencial; f) tal como Salazar, Cavaco assume-se como uma espécie de xamã das finanças.
O que mais me irrita nisto tudo, é que a campanha de Cavaco não precisava de travestir o professor de Boliqueime com a fatiota do professor de Santa Comba Dão. Fica-lhe mal. Prefiria mil vezes que Cavaco assumisse clara e honestamente que tem um pensamento e uma ambição políticas, e que recuperasse um pouco da pedagogia da ambição e da competitividade dos anos 80. Em último caso, nunca deveria colocar-se para além de tudo e de todos, como um espectro paternalista. Disso já estamos nós saturados.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Coisas há que me irritam nesta campanha presidencial. "

mas a campanha ja comecou???

10:42 da manhã  
Blogger David Afonso said...

É claro que sim. Aliás, quase que atropelava a campanha das autarquicas...

2:23 da tarde  
Blogger Biranta said...

Mas quem andou, durante meses, a pressionar Cavaco a gritar por Cavaco foram os seus opositores. Com tanta pressão, agora queixam-se de quê? Não sabiam falar de mais nada senão de Cavaco...
Ainda agora: o homem tem de falar e tem de... e tem de... fazem mais campanha por ele do que o próprio, o que é que querem?

5:19 da tarde  

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