Eles E Nós
O debate entre Mário Soares e Cavaco Silva evidenciou que ambos os candidatos representam a co-autoria do país que hoje temos e em que vivemos. Isto é, representam o passado. Aliás, só quase falaram dele. Quando deixaram de falar dele, e foi muito pouco, não se contradisseram, complementaram-se.
O sistema constitucional, o sistema político, o sistema económico são o que estes homens construíram, à vez. À sua maneira interpretam um presidencialicídio, isto é, uma supressão da função se e quando determinada pelo sufrágio directo e universal. Para isto bastava o Parlamento escolher como na Alemanha. Poupava-se no gasto (argumento simpático para Cavaco Silva) e valorizava-se o Parlamento (argumento adequado para Mário Soares).
Eles (como Soares diria), são o verso e o reverso do bloco central que difusamente tudo comanda em Portugal, da política à justiça, passando pelos negócios e pelos partidos. São os gestores da situação, que apenas divergem no prestígio das Universidades onde leccionam e na quantidade e na variedade das leituras pessoais.
Ambos são conservadores de esquerda, porque são o exemplo vivo do situacionismo estrutural do regime. Ambos, querem, defendem e fizeram muito Estado. Cavaco Silva, deste ponto de vista, é mais perigosos porque disfarça. No momento em que a despesa pública se torna conhecida, já o Estado lá está e não há nada a fazer sem dor ou conflito. Com Soares sabe-se desde o princípio com o que se conta. Vantagem da franqueza.
E neste sentido, eles (como diria Soares), não representam mais do que o passado. Por isso o seu discurso esgota-se no passado. Cavaco Silva exibindo o passado recente. Soares o mais distante, mas ainda bem presente nas nossas vidas, gabando-se do passado cronologicamente anterior ao do seu adversário. Eles são numa palavra a continuidade daquilo que toda a gente critica mas de que quase todos vivem e sobrevivem. Daí o seu aparente sucesso. Sucesso porque têm votos. Aparente porque para o país nada do que é necessário mudar com eles mudará.
Para o sistema ambos são moeda boa. Para o país ambos são má moeda. E nesta competição esterilmente rotativista se esvai uma campanha com dois actores e alguns figurantes. Cavaco Silva tenta diferenciar-se insinuando que resolve a economia. É mentira. Não pode rigorosamente nada. E a verdade é que o candidato também não quer poder. Apenas pretende que se julgue que pode. Porque julga estar aí a sua vantagem comparativa com Soares. Vantagem da imagem.
O país, esse, continua exactamente na mesma, dentro de momentos.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
O sistema constitucional, o sistema político, o sistema económico são o que estes homens construíram, à vez. À sua maneira interpretam um presidencialicídio, isto é, uma supressão da função se e quando determinada pelo sufrágio directo e universal. Para isto bastava o Parlamento escolher como na Alemanha. Poupava-se no gasto (argumento simpático para Cavaco Silva) e valorizava-se o Parlamento (argumento adequado para Mário Soares).
Eles (como Soares diria), são o verso e o reverso do bloco central que difusamente tudo comanda em Portugal, da política à justiça, passando pelos negócios e pelos partidos. São os gestores da situação, que apenas divergem no prestígio das Universidades onde leccionam e na quantidade e na variedade das leituras pessoais.
Ambos são conservadores de esquerda, porque são o exemplo vivo do situacionismo estrutural do regime. Ambos, querem, defendem e fizeram muito Estado. Cavaco Silva, deste ponto de vista, é mais perigosos porque disfarça. No momento em que a despesa pública se torna conhecida, já o Estado lá está e não há nada a fazer sem dor ou conflito. Com Soares sabe-se desde o princípio com o que se conta. Vantagem da franqueza.
E neste sentido, eles (como diria Soares), não representam mais do que o passado. Por isso o seu discurso esgota-se no passado. Cavaco Silva exibindo o passado recente. Soares o mais distante, mas ainda bem presente nas nossas vidas, gabando-se do passado cronologicamente anterior ao do seu adversário. Eles são numa palavra a continuidade daquilo que toda a gente critica mas de que quase todos vivem e sobrevivem. Daí o seu aparente sucesso. Sucesso porque têm votos. Aparente porque para o país nada do que é necessário mudar com eles mudará.
Para o sistema ambos são moeda boa. Para o país ambos são má moeda. E nesta competição esterilmente rotativista se esvai uma campanha com dois actores e alguns figurantes. Cavaco Silva tenta diferenciar-se insinuando que resolve a economia. É mentira. Não pode rigorosamente nada. E a verdade é que o candidato também não quer poder. Apenas pretende que se julgue que pode. Porque julga estar aí a sua vantagem comparativa com Soares. Vantagem da imagem.
O país, esse, continua exactamente na mesma, dentro de momentos.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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